Por Madu Porto
Nos dias 27, 28 e 29 de novembro, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) se torna o centro de debates sobre espacialidades, corporeidades e temporalidades ao sediar o XVI Encontro da Rede Historicidades dos Processos Comunicacionais, organizado pelo Grupo de Pesquisa Narrativa, Cultura e Temporalidade (Narra) e pelo Linhas – Rede Mineira de Estudos em Narrativas e Historicidades. O evento, que ocorre pela primeira vez em Uberlândia (MG), reforça o papel da universidade como espaço de troca acadêmica e inovação científica no interior mineiro.
Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o encontro é promovido em colaboração com o Programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação (PPGCE), o Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (PPGELIT) e o curso de Jornalismo da UFU.
Nicoli Tassis, pesquisadora do Narra e organizadora do encontro, destaca o compromisso da Rede em descentralizar a produção acadêmica, com o objetivo de oportunizar pessoas de diferentes regiões e níveis de formação. “Esse tipo de evento geralmente está mais presente nas capitais, ainda infelizmente, nas capitais do sudeste”, pontua.
A última edição, realizada em Cachoeira, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), mostrou a potência de eventos realizados fora dos grandes centros urbanos. Para o próximo ano, há planos de levar o encontro ao Nordeste brasileiro. “Uma tentativa de fazer a rede de pesquisa mais forte e interiorizada”, acrescenta Nicoli.
Os encontros da Rede Historicidades acontecem semestralmente – em um primeiro momento com trabalhos em resumo e posteriormente com artigos desenvolvidos – revezando entre 13 instituições de ensino superior (UFBA, UFRJ, UFMG, UFPI, UERJ, USP, UFOP, UFRB, UFS, UnB, UFU, UFF e Fiocruz). Neste semestre, o Narra é o anfitrião, recebendo 30 pesquisador@s de 4 regiões do país e 16 trabalhos aprovados para debate no Triângulo Mineiro.
A dinâmica de pesquisa colaborativa interinstitucional incentiva o trabalho entre pesquisador@s de estados distintos, criando além de saberes transversais e interdisciplinares, laços afetivos e conexões. “Como pesquisadora, nunca havia vivenciado algo assim antes de entrar na rede”, compartilha Nicoli.
Outro ponto de destaque, é a proposta única do evento que, em vez de apresentações tradicionais, os trabalhos aprovados são lidos previamente pelos participant@s e discutidos em profundidade durante as mesas. “Não é como os outros congressos”, assegura Nicoli. Os horários são dedicados exclusivamente a debates e indagações para os autores. É um diferencial formativo que valoriza o debate e a construção coletiva de saberes.
Além disso, a proposta do encontro é que cada trabalho a ser apresentado seja desenvolvido em parceria entre pesquisadores de diferentes grupos e instituições. Entre os 16 estudos que serão debatidos neste XVI Historicidades, na UFU, quatro têm participação de integrantes do Narra. Confira quais são eles:
O afrobarroco e os reencontros com as missas nas transversalidades musicais de Mateus Aleluia e Milton Nascimento:
Neste texto, Luana Franciele Miranda Souza (TRACC/UFBA), Mário Gonzaga Jorge Júnior (COMUM/UFRB) e Eduardo Ramos (Narra/UFU) assumem a tese do artista baiano Mateus Aleluia sobre o afrobarroco e tecem paralelos com a poética de Milton Nascimento, buscando confluência poéticas entre Bahia e Minas Gerais. O estudo foca nos discos “Missa dos Quilombos” (1982) de Milton Nascimento e “O Africanto dos Tincoãs” (1975) de Mateus Aleluia, passando pelospodcast “Afrobarroco em palestra musical: O canto dos Recuados”, protagonizado por Mateus Aleluia (2021).
Feminicídio de mulheres negras: Tensões nas relações de gênero, raça e território em coberturas jornalísticas na Bahia e Minas Gerais
Caio Amaral da Cruz (TRACC/UFBA), Ítalo Cerqueira de Souza (TRACC/UFBA), Julia Alvarenga (ACTO/UFMG), Jussara Peixoto Maia (COMUM/UFRB) e Nicoli Tassis (Narra/UFU) analisam coberturas jornalísticas sobre casos de feminicídio de mulheres negras em jornais baianos e mineiros. O trabalho engaja a perspectiva de que – contrariamente às reportagens analisadas, que reescrevem os crimes de forma protocolar, racional e cronológica – é preciso perceber a instabilidade espaço-temporal e os tensionamentos nas relações de gênero, raça e território existentes nas narrativas jornalísticas.
Atordoamento, coetaneidade e cronotopo em O beijo no asfalto: uma ciranda
Composto por seis autores, Luciana Amormino (Tramas/UFMG), Eliza Caetano (Tramas/UFMG), Antonio Kvalo (Narra/UFU), Débora Costa (Narra/UFU), Rafael Andrade (Tramas/ UFMG) e Henrique Caixeta (Tramas/UFMG), esta pesquisa analisa a obra audiovisual “O beijo no asfalto” e inova no formato do texto, escrito em forma de dramaturgia e diálogo com as rubricas de cada um dos autores se complementando, contrapondo e tecendo uma análise que mobiliza conceitos de atordoamento, coetaneidade e cronotopo a partir da metodologia da ciranda.
Fantasmas de tempos, espaços e corpos outros
A contribuição de Ana Luisa Coimbra (GEEECA/UFRB), Mariana Souto (Cinema e alteridade/ UnB) e Nuno Manna (Narra/UFU) discute um tema curioso e inquietante, que vê na figura do fantasma, conforme suas aparições em pinturas, fotografias e obras cinematográficas, um recurso discursivo com potencial para a compreensão das historicidades, perpassando frequentemente por questões relativas ao passado colonial e escravocrata, aos conflitos de classe ou aos desdobramentos de ditaduras ou regimes opressores.
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Os demais trabalhos você confere na programação do evento. A participação é aberta ao público, sem necessidade de inscrição prévia, e ouvint@s receberão certificados. As atividades acontecem no auditório do Bloco 1E, no Campus Santa Mônica, das 14h30 às 18h30. Não perca a chance de participar desse encontro.